terça-feira, 21 de abril de 2009

poemas de amor para uma provável performance

O amor

Tesa.
As coxas prendiam
os segundos
num impulso de amor
Digo: amor, amor, amor
à exaustão dos ouvidos
e da própria sensação

Vexação.

Mais certo seria desprender
das coxas
essa novidade
dita amor?

O nomeado
O numinoso

O tenebroso
e o tão tão tão
mais querido Amor!

(nov 2004)


*****
O

deixarei ele guardar
em mim
qualquer triste paternidade
e outro infecundo sêmen
Descansa a mão dura
e senil em minha cabeça
Procurarei horas essas
ou aquelas
tão vazias de lembranças:

(Opróbrio
Onófrio, deixaste tua filha
Sério e correto,
tua mais descente alternativa...
A bela puta da noite
fez dela tua família).

nov/2004

 
****
Levantou as 7 anáguas
até o indecoroso: altura do calcanhar
Subiu enraivecida a escada

Jogou-se sobre a cama
forrada de travesseiros
e chorou
numa representação de desespero



Ele não se casaria com ela
era um misógino.

(primeiro drama romântico de uma
alma frívola)
2004
****
ele devorava ela e tudo o que tinha
era fome, fome que nele havia.
devorava pernas, coxas, cabelos
seus leites, suas secreções, seu suor
era uma fome sem parada
quase uma dor

Talvez fosse dor.

(2003)
*****
exaustão

apanhei todos os fios de cabelo do chão, os meus fios, coloquei-os na agulha e costurei a pele. costurei-me sem-vezes, minha pele com meus fios, era necessário, mesmo, costurar toda a pele, era emergencial fechar-me, providencial. o ato, penso, egoísta. o ato, penso, doloroso. mas não era. as ausências são maiores, essas me ferem, repelem o alívio, a calma. essas ausências doem,doem, e preciso costurar esses buracos físicos, esses buracos d’alma abertos no corpo. tão dramáticos, tão dramáticos, tão exaustos, tão exaustos, tão exaustos, tão exaustos, tão exaustos, tão exaustos, tão exaustos , tão exaustos, tão exaustos, tão exaustos, tão exaustos, tão exaustos, tão exaustos, tão exaustos.

15/04/05
*****
Devo refazer uns cálculos
que isso implique
na redução
- significativa -
de extremos afetos.

4/04/05
****

Retrato
(para G.)


Está tudo aqui nas
intermediações do corpo.
o café amargo, o gás
do refrigerante descansando na língua
O sentimento que não posso ter
O rosto que não posso ter
Esse medo da feiúra
Essa dor de espelho

Como, como
Como são essas palavras
que esqueço ?

Era chã
era desterro
qualquer outra grande-boca
que expliquei meu desassossego

Fujo das dores velhas
e já sabidas
das pálpebras cinzas
dos breves confortos
Dessa casa maldita

Quero não enxergar em suas telas
essa luta de ausência
Essa massa asfáltica
esse tanto de tinta.
E se vejo sua dor
não quero mais vê-la
Se vejo sua solidão
não quero mais tê-la

Quero os primeiros toques
os tons pastéis
A borboleta dourada
desprendendo-se da cabeça
da minha avó

E por não ter solidão
beijo qualquer pele.

Para não ter solidão
penetro-me

Por não ter solidão
eu sangro aqui
em desvairadas desculpas.

16/10/2000

****

A pessoa era muito gorda
e eu a amava
suas gorduras sobrepostas,
(para aquilo que chamam de pelancas)
o seu cheiro debaixo do braço
(para aquilo que chamam de sovaco)
eu chamaria de essência verdadeira da vida!
Frescor já não havia
há muito tempo
mas o azedume resolvia
minha questão amorosa.
seus olhinhos
quão pequenos quão pretinhos
os seios também.

meu amor tomava banho
mas o sol logo a aborrecia.

e era esse meu amor
a amava, a amava
em toda a sua humanidade.

2004

****

As dolorosas III

pensou na pira, peito aberto cravado de dor e lança. a loucura, a angústia, o devaneio queimariam num único ato. o infortunado amor, tão patético e tão estéril.
mais inerte foi o impulso suicida e melhor tão melhor assim, a semana passou e já rebolava saudosa de uma paixão ruim.



As dolorosas II




Confidencial abriu seu caderno de anotações transcreveu num tom fantástico (nem tanto) num tom de ineditismo o seu dia. Fechou-o, trancou-o com uma chavezinha (seu diário tinha chave) deu alguns pulos de adolescente alegria. Confidencial, olhou-se satisfeita no espelho e ficou esperando a hora que um malicioso dedinho descobrisse mais profundamente os seus segredos.

2005

******

O que ela coseu
trabalho em vão
desfez a colcha num ataque
de resignada Penélope
Essas mulheres que
sofrem de esperanças
oblíquos desejos
(infelizes brinquedos)
O beijo o afeto
grudam na pele
a voz o pedido
instalou-se como único som
no ouvido.

06/03/2005

****

As Fúrias morderam
seus pés
tornando-o manco
portanto preso.
O Cupido inverteu
suas flechas
e pôs-me
em solitária paixão.


Perco
todos os dias um pouco
da minha razão
perduro
e engulo calmamente
sua saliva
que restou na minha.

Tenho esse fato
para gastá-lo
mensurá-lo ao infinito
voltar desse infinito
e viver em paz.

25/03/2005 (Sexta-feira da Paixão)
 
*****
vislumbrei um beijo
não contente com ele
abri o corpo em abraço
ainda não saciada
enrolei-me no corpo
para gozar o sexo
e a outra pele
perdurou na minha.

a pele não imaginada
tornou-se quista
tão querida e a mim apegada,
ou a ela eu apegada

agora que é preciso
desvencilhar-me
não consigo
como se fome minha pele
sentisse
é muita a fome
tamanha a indisponibilidade
para separação
tamanho o esforço
para me fazer necessária
o pescoço, os braços
os cabelos
o cheiro
dão-me náuseas de amor


o improferível eu
proferi:

amor:

21/03/05

****
eu tenho pudor
pudor de língua e pudor de modos
recolho meus joelhos
em X
numa reflexão
sobre a moral
as vergonhas
meus maus costumes
- devem ser uma disfunção amorosa -
não sustentam
os joelhos em X
e abri-los
e amar
e trair os jogos sentimentais
desnudar o mistério


frágil e vulnerável
-o pudor
arremedo de timidez
quiçá
o medo.
que eu perca
no vão das pernas meu insustentável AMOR.

22/03/05

****
A CARTA


Daqui sai uma
carta
Rabiscada
Pouca
Picada

Daqui sai
uma carta
educada
enfisema
Leda,
Leia a carta ou não leia
Ledo engano
Leio: engano.

1998


****
CACO


Se minha dor parir
Uma lágrima
Pois bem ela paira
Uma gota de vidro
Caco no umbigo.

2000
****

Não ficarei prostrada
esperando uma saída
resguardo minha casa
e meus poucos objetos
há um novo movimento
orgânico-sentimental
espalho minhas aflições
pelo corpo
e aos poucos
são expelidos
os desdobramentos da matéria
grito! grito! grito!
torno-me sã
sem histerismos
sem confrontos
banho-me banho-me banho-me
e mergulho na inépcia,
na surdez
numa simples satisfação
morro, morro
e não percebo.

01/04/05

****
Sono

Estou com a mão
deitada no meu sexo
aguardando pacientemente
uma junção de sentidos
Algo que eletrize
meus movimentos
a.po.plé.ti.cos

Imperioso:
esse labor de
querer-me todos os dias
E todos o s dias
nego-me
e todos os dias
entorpeço-me.

Eu durmo
num des-sentido
num desenfreado sono


Minha mão repousa
como repousam
a libido
o amor
a chateação

Minha mão
repousa
e o mundo
fingindo-se agitado
repousa também.


(para minhas amigas Flávia E. e Anapaula B.)
06/06 /05
****

Caderno de poemas de amor:


Tereza
Tereza tinha sede
e beijou seu próprio pé
Tereza tinha sede
e o pé era apenas
uma distração
um descaminho
para abrandar a
tal sede:
Tereza tinha sede
e também dor
No espelho era
multiplicação de
uma ausência
uma falta que já
não a pertencia
uma falta dos diabos!
e tudo o que ela roía
era o desvio da percepção.
Tereza
roía
roía
roía
e assim demovia
demovia


o infausto
amor.

10/01/06

___________________________

Estou tonta vendo
um amor rodopiar
lá fora
fora da minha janela
zonzeia
zonzeia
o que é esse amor
é o amor
ou uma louca barata
envaidecida com
suas asas
a voar fora de mim?
Esse amor
barata
uma barata
um basta

pois nada mais me parece
ele também me nauseia.

10/03/06





Sentou-se à porta
da sala
o primeiro movimento
era o de vigília
para o não movimento
os pés deveriam
permanecer parados
paradinhos lado a lado
nem uma batida
de impaciência no chão
Vigiava sua capacidade
de descrição
de equilíbrio emocional.
Não queria que os
seus pés delatassem
Estava ali
como toda a tarde
pegando seus raios de sol
- apenas -
Até que ele passasse
do outro lado da rua
Embriagado
Até que passasse
do outro lado da rua
Suado
Cansado
Até que ele passasse
Dias
que passem
Outros dias
e um pequenino desastre.
Uma tragédia ínfima mesmo...
Até que ele passasse
ele de mãos dadas
com a sua esposa
e um filho no colo.
Os pés aflitos
chutaram o chão
os pés aflitos
e os olhos aflitos
lacrimejaram

ao chão.

10/01/06


o meu amor está dito
des-dito
Em que página
ele se contém?
O meu amor está
na língua
e não minha
no corpo
e não meu.
Ele está
Nessa respiração
Nessa respiração
nessa repetição
não
não e não mais meu.

12/03/06


Plantei a perpétua
e ela morreu
plantei a impaciência
e foi outra que padeceu
plantei a lágrima de Cristo
e também morreu
De todas as minhas
tentativas ecológicas
e românticas
somente o cactus sobreviveu.

para A.S. -27/03/06



No tempo longínquo
um homem espetou
seu dedo no espinho
num tempo do mesmo modo distante
um homem arrancou
a rosa da terra
num tempo ainda mais remoto
um homem se apaixonou
por uma moça

Então: arrancou a rosa da terra,
espetou seu dedo no espinho,
procurou a moça por quem
havia se apaixonado
e deu-lhe a flor.
Porém a donzela não se lembrava
mais do moço, não lembrava
como deveria agir, se deveria aceitar a rosa,
apavorada e sem nada dizer
correu pelo campo
correu, correu
correu muito e o moço lá ficou
entre aquelas montanhas
sozinho, sozinho, sozinho.

julho/2006-p/ as crianças.

essas antipatias. julgo.
são reminiscências da alma
temerárias porque estão
num estágio de cronicidade
isto é, julgo, tornaram-se crônicas
essas antipatias, julgo,
são tragicidades da alma
essas antipatias. julgo.
são provisões d’alma
julgo defesa
julgo baixeza
Essas antipatias. julgo
são fragmentações da alma.
julgo ter remédio
julgo ter esquecimento
essas fantasias julgo
mimetizam uma prova
a prova foi ter escolhido Dido
em tempos modernos
essas antipatias. julgo.
acabam com meu léxico.

18/07/06



Tenho uma flor
para dar-lhe
mas muito me envergonha
tal presente
Dou-me
[a mim
não como um presente
mas como uma companhia,
para enamorar-lhe
muito me envergonha
dar-me
mas o amo, senhor
e vergonha
maior tenho
em calar-me
Essa vida é curta
(dizem)
e não permito que só a
solidão lhe agrade.
Muito o amo senhor
aceite de bom grado a
minha pequenina flor.




13/07/06

farei um corte
muito ínfimo
em minha pele
e o sangue que
escorrerá será
também ínfimo
o corte parecerá
uma mentira
porém ele está
ele estará
é um corte
só para entender
essa questão:
questão da vida.
o fino sangue
dirá:
está viva
está morta.
porém a constatação física é uma brincadeira, importante será a resposta,
o corte é uma provocação de quem descansa e cansou de descansar.

18/07/06

segunda-feira, 30 de março de 2009

medite
edite aqui na minha mão
medite
uma estrofe basta um rumo basta o sumo basta
a caneca está na minha mão
medite
mesmo com dor e sinusite
medite
Edite, meu pulso corre para sua mão
edite
meu sono
meu cabelo
meu corpo
e todas as minhas secreções
correm para sua mão.

ele...gosto muito dele: escher


ALGUNS SEM TÍTULO, SOBRE A PALAVRA

1.
Experiência fonética?
Não faço.
Separar consoantes,
encontrar vogais,
pensar sistematicamente,
Não faço.
não é despeito
É impossibilidade
São as impossibilidades
de sistematização
de racionalização
de coerência
de metáforas
Uma falta de tempo
o tempo já foi
A modernidade
segue em linha reta
faz séculos
Falarei eu de ruídos urbanos?
Nasci com eles.
Da rapidez vertiginosa
das informações?
Nasci com elas.
Sou eu, portanto, menor?
Devo ser.

XXXX
2.

Obriguei-me a desconcertante
função da escrita
exercício da palavra
e acredito agora,
da caligrafia
um ato contínuo
prescreve a fala
aborrece o outro
estima-se uma conversa
no final da linha.

Não há.

Não há dissonâncias
as coisas estão em seus lugares
firmes feito prédios
de vigas, de cimento, de gesso
argamassa, tijolos, pedras, tintas
e depois móveis
e depois gentes.
Obrigo-me a desconcertante
função
de ser acolhida
pelo espaço
Um pequeno espaço:
o canto do quarto
De lá eu declamo
mudas palavras
cansadas fábulas.
Aglutinei, mastiguei
cuspi...
e dormi, dormi
naquele canto mesmo
do meu quarto mesmo.

XXXX

3.

a ordem
nunca está pronta
os lábios
nunca comprimidos
descascam
a partícula
afasta-se
-se
-se
apazigua o meu sujeito
agora
de lábios cerrados.

XXXX

4.
Esta divisão que está na música
não a vi
nem a ouvi
esta notação
determinando duração e altura
não a vi
nem a ouvi.
Ato contínuo.
é a minha dissolução desta
queda

vida.

O silêncio tão necessário
apenas um hiato
desconectado da palavra
e a palavra, e a palavra
a repetição desnecessária
a invenção perniciosa
das letras
esta junção misteriosa
por vezes efêmera
fosse eu analfabeta
fosse eu pessoa surda

nada mudaria a fúria
mais uma outra forma da fala.

XXXXX

5.

Quantos somos
Quantas letras e sílabas
articulamos
quantas construções sintáticas somos?
Devemos contar os desvios
os neologismos
a repetição
as repetições
à procura da letra
epa! Perdi os cálculos
quantos somos?
Uns excluídos
casos retos
outros pronomes promovendo designações
Eis:
pela matemática
resolvo uma questão da gramática?
dramática?
Não,
apenas penso
quantas palavras agrupamos
quantas nomeações esquecemos

é total a afasia

Apoplexia
um número infinito
contido na gota
umas declinações infinitas
contidas na boca.

UMA

ocultei
uma ideia sem fonte
pensamento sem explicação
há um verme,
disso eu sei,
encravado no céu da minha boca,
creio até que podem ser vários
uma família.
Mas que seja um:
um verme ou
uma bactéria.
Não sei muito bem a diferença entre eles...
Deixe-me ver
Bactéria: organismo unicelular, procariótico que geralmente se reproduz por cissiparidade, pode ser patogênico para o homem e outros animais.
Verme: nome comum a todos os animais invertebrados, à execução dos insetos...pessoa infame, desprezível...
Sendo assim escolho a bactéria.

Há uma bactéria incrustada no céu da minha boca
eu sei que ela existe
como persistência de um incômodo
ela rói.
Infiltra-se na minha gengiva
acorda-me à noite
para dizer que não desistiu
Pela manhã tento cuspi-la
mas não
A minha gengiva está retraída
e a bactéria lá
resistente a qualquer assepsia bucal
É assim que me lembro:
não sou etérea
meu corpo me chama todos os dias.
É uma relação reflexiva
Ainda não sou uma personagem kafkaniana
Somos monstros distintos: a bactéria e eu
São trincheiras mínimas
Entre o corpo e o corpo.
O corpo
é só meu
Minha boca que parece deslocada de mim
Entendo,
a bactéria quer ser um deslocamento.
Contudo cansou-se
E devido a isso,
é dor cotidiana
em pouco tempo será também
Instabilidade remediada.