segunda-feira, 30 de março de 2009

UMA

ocultei
uma ideia sem fonte
pensamento sem explicação
há um verme,
disso eu sei,
encravado no céu da minha boca,
creio até que podem ser vários
uma família.
Mas que seja um:
um verme ou
uma bactéria.
Não sei muito bem a diferença entre eles...
Deixe-me ver
Bactéria: organismo unicelular, procariótico que geralmente se reproduz por cissiparidade, pode ser patogênico para o homem e outros animais.
Verme: nome comum a todos os animais invertebrados, à execução dos insetos...pessoa infame, desprezível...
Sendo assim escolho a bactéria.

Há uma bactéria incrustada no céu da minha boca
eu sei que ela existe
como persistência de um incômodo
ela rói.
Infiltra-se na minha gengiva
acorda-me à noite
para dizer que não desistiu
Pela manhã tento cuspi-la
mas não
A minha gengiva está retraída
e a bactéria lá
resistente a qualquer assepsia bucal
É assim que me lembro:
não sou etérea
meu corpo me chama todos os dias.
É uma relação reflexiva
Ainda não sou uma personagem kafkaniana
Somos monstros distintos: a bactéria e eu
São trincheiras mínimas
Entre o corpo e o corpo.
O corpo
é só meu
Minha boca que parece deslocada de mim
Entendo,
a bactéria quer ser um deslocamento.
Contudo cansou-se
E devido a isso,
é dor cotidiana
em pouco tempo será também
Instabilidade remediada.

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