segunda-feira, 31 de maio de 2010

muito difícil

1.
lidar todos os dias com espanto e com uma estagnação
puxar-me todo o momento do medo, da letargia
custo a entender esse terreno que agora estou
terreno sem fuga
acomodado assentamento do dia
e sei que isso ainda não é o equilíbrio
porque a inadequação existe, disfarçada
sorrateira

2.
vou afirmar que deus não existe?
quando ligo o rádio ouço:
carolina, carol, carol, carolina bela
ela mora no meu peito...

(interpretada por claudete soares)
senti-me amada por alguém
pode ser a sorte do meu nome
mas deixe-me pensando mentiras

e por hora não quero mais desfazer de mim

3.
estou com uma vontade imensa de me jogar na cama e chorar
mas me sentirei tão vagabunda
tão preguiçosa
tão fútil
tão banal
a estranheza só aumentará
deve ser a solidão
que planta essas incoerências na gente

4.
o duplo:
o outro hoje foi mais forte
acordou-me tarde, após às 9h
sentiu-me triste
o único intervalo:
selecionei os poemas para dri
fui para cama
dormi
ou acho que dormi
chorei antes
acordei e me dei capeletti
faz frio
o duplo foi embora
(acho)


agora posso trabalhar, após 9 horas...

domingo, 30 de maio de 2010

escritos 30/05/2010, na praça, no supermercado, na cozinha, no quarto...passíveis de mudanças, de censuras, exclusões

vamos costurar colchões...
ainda eu conheci
um colchão de palha
da casa de minha avó
no quarto do meio
também:

uma prateleira de livros

um baú cheio de papéis

uma máquina de crochê ou era tricô
(minha avó não a usava)
gavetas
(eram nossos escritórios, casas das susies)
sol de poeira pelas frestas da imensa janela
na casa da minha avó tinha ela
rangendo as tábuas do corredor dos quartos
tenho grudadas na pele tantas memórias delas
da casa
e da minha avó.

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profícuo e insosso.

qual deles beber?


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Quero poemas curtos
nada de epopeias
(telegramas
a longas cartas virtuais)
sintético, seletivo, racional
sequinho.

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A rua me dá versos
a casa os apaga

somos todos oblíquos

declinados

declinamos.

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faço as letras rodarem
aquelas sobrepostas
em
cadernos
antigos
- sobrepostos -
de
poeiras
- sobrepostas -
numa cesta
(que não está sobreposta)

quero a roda
doce brincadeira
levo-as para cirandar.
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titia, a mão!
titia, o braço!
tita, o cabelinho!
Nana dorme mexendo na minha mão.
Lala dorme acariciando o meu braço.
e o Pepeu até hoje, aos 10 anos, pede uma mecha de cabelo para ele segurar e enrolá-la.
assim eles dormem
assim os amo de um amor absurdo
incansável

preocupado

profundo

fundo

fundo.
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a população de meia-idade masculina multiplicou-se?
é uma perseguição?
a minha memória não me traz felicidade
vontades
deixa-me boiando
numa água densa, parada
boio na inércia
boio num quase arrependimento
numa vergonha de mim mesma

não boio no amor
nem na sua ausência
não!

é tudo estranhamente incômodo
causa-me uma secura
e parece que só esses senhores
me veem e eu os vejo
e acabo os desejando
e fujo!

não quero! não quero!
quero não ter memórias...
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momentos depois:

tenho memórias
reminiscências açoitam-me
pela manhã
no meio do dia
no meio do sonho
(hoje sonhei que namorava o Alceu Valença e alguém, muito inconveniente, nos atrapalhou)

conservo um domingo
o gosto amargo do seu mamilo
a gota do seu suor que caiu no meu olho
feito um colírio
(pena que me deixou um tanto cega)
resquícios
não me fazem feliz
nem desejosa.

açoitam-me.

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estou tentando entender o grau dessa maldade
a qual grau pertence?
o gosto dessa saudade?
também não a classifico
uso essas palavras
porque sou uma pobre desprovida de vocabulário
faltam-me outras e novas palavras
não é amor
não é amor

isso está escondido
sob os tacos do quarto
sob o peso da cama
sob o meu magro corpo
sob o apartamento de cima
sob o telhado e a caixa d’água do prédio
sob a gravidade da Terra.
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esperando Ana

como você virá já no final do próximo mês

posso ouvir cake sem chorar

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se não me comprometer com a casa
limpar seus vários ângulos
desaninhar aranhas
remover migalhas e fios de cabelo
se nada faço
as formigas virão
(assim lembro-me de saramandaia
só depois descobri macondo)

as formigas virão
não posso me desabitar.

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(lendo alguns homens do anos 70...)


aliciei patrícia. era maior de idade, mas era santa
amaciei patrícia
lavei sua tripas e fibras
eram novas e resistentes
fornicamos
a enchia de malícia e alguns bons tapas, seguidos de lambidas
era para o seu bem e para que eu fosse um infame

(e eu era, sim, um torpe

ou um solitário)

tangi seu lombo
extorqui sua vida
amarrei-me na sua língua

eu amei patrícia.
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Relendo: 26 poetas hoje (1ª ed.1975)

JURA

Vou me apegar muito a você
vou ser infeliz
vou lhe chatear

Roberto Schwarz

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Poema do nosso caderninho (meu e de Paulo Henrique)

tenho portas nos pés
e nas mãos
tenho escadas e vãos
saídas e entradas
tenho possibilidades nos dedos
arremedo nos olhos
tenho recursos da fala
balbucio
cochicho
confidencio
tenho aberturas
no peito
talvez janelas

há uma luz fraca
chamando para o quarto
bichos de lâmpada

tenho compartimentos
comportam bichos e insetos.

(enquanto escrevia entrou uma mariposa no meu quarto e
mudei o rumo do poema)

por e-mail

quando nos achamos nos outros parece que algo está perdido para sempre
aquela palavra que não foi mencionada, escrita, agora é tarde, outros a tomam, viram propriedade alheia, e a palavra era solta, a ideia era apenas a minha ideia do gesto.
não houve o gesto, afinal por herança sou vítima da preguiça...
uma eterna vítima...
hoje comecei o dia com um conto de clarice
devaneio e embriaguez de uma rapariga
embriago-me, mas diluo-me antes da hora
escolho a cama

e a caneta e o papel
inermes sobre a dura mesa.

(para adriane b. em 21/05/2010, outra sexta...)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

trem

afetada por sensibilidades, delicadezas
nomiei hoje no trem dores miúdas do dia a dia

desisti de senti-las.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Conforme Roland Barthes denominamos um “nós”,  para disfarçar a primeira pessoa do singular, mas no fundo é um artifício...

Meu grande problema é ser confessional e um problema maior ainda é tentar não ser!

daquilo que foi um ano passado

em 22.06.2009

eu perco a memória
antes da construção da memória.


em 21.06.2009

tenho-me em pequenas gavetas
em mínimos lugares
na poerinha do chão
tenho-me
olhos colados nos objetos que possuo
por direito consumido

tenho-me miúda irresponsável inotória.
os olhos das minhas coisas se abrirão
e neles estarei
porque sou minhas coisas
e elas me são.
assim um relacionamento reflexivo e fiel.

bloquinho adquirido em 08 de junho de 2009:
1ª folha: (este formato é porque o bloco é pequeno, também por isso. Há acréscimos, alterações, nem sempre...).
não vou parar
ou por fuga
ou por calma
não vou parar
municiei-me de cadernos
2 novos, este bloco
caneta nova
no final disso tudo
hei de ter conseguido
algum tipo de organização
enquanto um assunto não vem
uma imagem não se tem
relato o almoço:
(verso da 1ª página):
Agora no meu prato:
polenta com queijo branco
carne moída com azeitonas
farofa com cenoura ralada
alface americana
molho de iogurte
feijão
arroz integral
para tomar: coca em lata.


*
2ª folha
teve uma época
de mitologia
de tragédias
de perséfones e medeias
outras mais modernas
mas da mesma maneira trágicas
de yerma e a esterilidade
e assim, como também dido
torne-me um pouco yerma
e quando falo, menciono
que não tenho filho
e sempre relaciono com a idéia da ausência
então eu falo sempre do filho
que não gestei
falo na verdade daquilo que não fiz
é esta a minha esterilidade
não necessariamente um filho.






3ª folha


eu mergulho, me curvo
sobre o prato
e procuro imagens
tudo atrasado
lavaram o prato
e eu acordei.


De 08.06.2009



do caderninho C.R.I (centro de reunião de informações, alcunhado por Gisa. era para desenhos, mas escrevi muito mais que desenhei, então desenhei)

lendo Julio Cortázar

se as enguias
entrarem nessa
arquitetura de sonhos
não saberei retirá-las
se os meus passos
pisarem escadas alheias
não saberei apagá-los
se os meus olhos
se fecharem
se cegarem-me
se fundirem-me
se distrairem-me
não saberei acordá-los
se o limite é sempre esse
o buraco na barriga
não saberei transpor
essa linha
e se ela for
aquela de outras letras
é a linha das insinuações
canhestras
é a linha de perder-me
sempre sempre sempre
em mim mesma.


26.03.2009

estou em grande desacordo:
entre pensamento, os olhos e as mãos
decorrem horas de separação
condutores nervosos que me levariam
a uma única sensação
foram interrompidos
são horas de estranheza
as coisas não me reconhecem
e eu não reconheço as coisas
o corpo não funciona
ou opera sem a minha intervenção
sombreia o caderno em que me apoio
sou eu de um outro lado
em desacordo.

20.06.2009

daquilo que foi um ano passado

Noturnas:
as letras e as penas também estão geladas
o gelo aqui é físico
mesmo
o meu quarto é frio
mais que a rua

Noturnas:
o computador está com seis tipos de vírus
uns replicantes desgraçados
sabe o que farei?
vou tomar banho e
pensar em dormir.