domingo, 30 de maio de 2010

escritos 30/05/2010, na praça, no supermercado, na cozinha, no quarto...passíveis de mudanças, de censuras, exclusões

vamos costurar colchões...
ainda eu conheci
um colchão de palha
da casa de minha avó
no quarto do meio
também:

uma prateleira de livros

um baú cheio de papéis

uma máquina de crochê ou era tricô
(minha avó não a usava)
gavetas
(eram nossos escritórios, casas das susies)
sol de poeira pelas frestas da imensa janela
na casa da minha avó tinha ela
rangendo as tábuas do corredor dos quartos
tenho grudadas na pele tantas memórias delas
da casa
e da minha avó.

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profícuo e insosso.

qual deles beber?


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Quero poemas curtos
nada de epopeias
(telegramas
a longas cartas virtuais)
sintético, seletivo, racional
sequinho.

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A rua me dá versos
a casa os apaga

somos todos oblíquos

declinados

declinamos.

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faço as letras rodarem
aquelas sobrepostas
em
cadernos
antigos
- sobrepostos -
de
poeiras
- sobrepostas -
numa cesta
(que não está sobreposta)

quero a roda
doce brincadeira
levo-as para cirandar.
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titia, a mão!
titia, o braço!
tita, o cabelinho!
Nana dorme mexendo na minha mão.
Lala dorme acariciando o meu braço.
e o Pepeu até hoje, aos 10 anos, pede uma mecha de cabelo para ele segurar e enrolá-la.
assim eles dormem
assim os amo de um amor absurdo
incansável

preocupado

profundo

fundo

fundo.
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a população de meia-idade masculina multiplicou-se?
é uma perseguição?
a minha memória não me traz felicidade
vontades
deixa-me boiando
numa água densa, parada
boio na inércia
boio num quase arrependimento
numa vergonha de mim mesma

não boio no amor
nem na sua ausência
não!

é tudo estranhamente incômodo
causa-me uma secura
e parece que só esses senhores
me veem e eu os vejo
e acabo os desejando
e fujo!

não quero! não quero!
quero não ter memórias...
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momentos depois:

tenho memórias
reminiscências açoitam-me
pela manhã
no meio do dia
no meio do sonho
(hoje sonhei que namorava o Alceu Valença e alguém, muito inconveniente, nos atrapalhou)

conservo um domingo
o gosto amargo do seu mamilo
a gota do seu suor que caiu no meu olho
feito um colírio
(pena que me deixou um tanto cega)
resquícios
não me fazem feliz
nem desejosa.

açoitam-me.

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estou tentando entender o grau dessa maldade
a qual grau pertence?
o gosto dessa saudade?
também não a classifico
uso essas palavras
porque sou uma pobre desprovida de vocabulário
faltam-me outras e novas palavras
não é amor
não é amor

isso está escondido
sob os tacos do quarto
sob o peso da cama
sob o meu magro corpo
sob o apartamento de cima
sob o telhado e a caixa d’água do prédio
sob a gravidade da Terra.
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esperando Ana

como você virá já no final do próximo mês

posso ouvir cake sem chorar

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se não me comprometer com a casa
limpar seus vários ângulos
desaninhar aranhas
remover migalhas e fios de cabelo
se nada faço
as formigas virão
(assim lembro-me de saramandaia
só depois descobri macondo)

as formigas virão
não posso me desabitar.

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(lendo alguns homens do anos 70...)


aliciei patrícia. era maior de idade, mas era santa
amaciei patrícia
lavei sua tripas e fibras
eram novas e resistentes
fornicamos
a enchia de malícia e alguns bons tapas, seguidos de lambidas
era para o seu bem e para que eu fosse um infame

(e eu era, sim, um torpe

ou um solitário)

tangi seu lombo
extorqui sua vida
amarrei-me na sua língua

eu amei patrícia.
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