terça-feira, 25 de maio de 2010

daquilo que foi um ano passado

em 22.06.2009

eu perco a memória
antes da construção da memória.


em 21.06.2009

tenho-me em pequenas gavetas
em mínimos lugares
na poerinha do chão
tenho-me
olhos colados nos objetos que possuo
por direito consumido

tenho-me miúda irresponsável inotória.
os olhos das minhas coisas se abrirão
e neles estarei
porque sou minhas coisas
e elas me são.
assim um relacionamento reflexivo e fiel.

bloquinho adquirido em 08 de junho de 2009:
1ª folha: (este formato é porque o bloco é pequeno, também por isso. Há acréscimos, alterações, nem sempre...).
não vou parar
ou por fuga
ou por calma
não vou parar
municiei-me de cadernos
2 novos, este bloco
caneta nova
no final disso tudo
hei de ter conseguido
algum tipo de organização
enquanto um assunto não vem
uma imagem não se tem
relato o almoço:
(verso da 1ª página):
Agora no meu prato:
polenta com queijo branco
carne moída com azeitonas
farofa com cenoura ralada
alface americana
molho de iogurte
feijão
arroz integral
para tomar: coca em lata.


*
2ª folha
teve uma época
de mitologia
de tragédias
de perséfones e medeias
outras mais modernas
mas da mesma maneira trágicas
de yerma e a esterilidade
e assim, como também dido
torne-me um pouco yerma
e quando falo, menciono
que não tenho filho
e sempre relaciono com a idéia da ausência
então eu falo sempre do filho
que não gestei
falo na verdade daquilo que não fiz
é esta a minha esterilidade
não necessariamente um filho.






3ª folha


eu mergulho, me curvo
sobre o prato
e procuro imagens
tudo atrasado
lavaram o prato
e eu acordei.


De 08.06.2009



do caderninho C.R.I (centro de reunião de informações, alcunhado por Gisa. era para desenhos, mas escrevi muito mais que desenhei, então desenhei)

lendo Julio Cortázar

se as enguias
entrarem nessa
arquitetura de sonhos
não saberei retirá-las
se os meus passos
pisarem escadas alheias
não saberei apagá-los
se os meus olhos
se fecharem
se cegarem-me
se fundirem-me
se distrairem-me
não saberei acordá-los
se o limite é sempre esse
o buraco na barriga
não saberei transpor
essa linha
e se ela for
aquela de outras letras
é a linha das insinuações
canhestras
é a linha de perder-me
sempre sempre sempre
em mim mesma.


26.03.2009

estou em grande desacordo:
entre pensamento, os olhos e as mãos
decorrem horas de separação
condutores nervosos que me levariam
a uma única sensação
foram interrompidos
são horas de estranheza
as coisas não me reconhecem
e eu não reconheço as coisas
o corpo não funciona
ou opera sem a minha intervenção
sombreia o caderno em que me apoio
sou eu de um outro lado
em desacordo.

20.06.2009

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