terça-feira, 17 de agosto de 2010

anteriores...


O mito do eterno retorno
Comeu
Comeu tanto.


Passou mal, mas comeu
Tanto
Comeu tanto, mas passou mal

passou mal e comeu tanto
tanto tanto passou...

                                       out. 2004



vejam: todas essas afetações
vejam: todas essas afetações
vejam: todas essas afetações
risquem
as afetações
diluam
as afetações
calem
as afetações
vejam: toda a simplificação.

um ponto
um ponto
um ponto
à espera de um sopro.

18.01.2009




postulo
no nível deste braço
na extremidade deste braço
um assunto
um princípio de conhecimento
afirmo uma inteligência
e na outra extremidade
uma negligência
o corpo
ele pode exemplificar tudo.
todas as extensões e distensões.

26 de fev. 2009, começou com a palavra postulo e pensando em braços.



título provisório: meu livro de Karl Blossfeldet 

um maravilhamento:
se não há amor
também não sinto seus desdobramentos
maravilhas do ser sozinho
maravilha depender apenas do dia
Impediram-me da loucura.
As dores
tão suportáveis
que nulas.
Um maravilhamento
o mundo se abre
em raízes
em pétalas
em pólen
em talo
em caule
em articulações
para a vida
e nisso entendemos também a sobrevivência.
Um fundo infinito
uma haste
e um caminho
uma haste
e uma construção
uma folha
que não é só ornamento
mas em si
a sua solução de vida
maravilhas do ser sozinho:
as plantas no papel
isoladas
valorizadas
aumentadas
e eu a vê-las...
sem amor
sem desconforto
sem loucura
sem espera.
               23.09.2008

***ir para os poemas de amor
o caminho:

eu te amo por todos os dias da vida , eu amo por todos os momentos que não posso amar e amá-lo e amá-lo e amá-lo. agora me escondo nessas palavras , quanto mais me demonstro e demonstro isso: essas palavras pisadas, não minhas, não entendidas, essas palavras...
essas trobas, essas trobas
a paródia- o amor

22/08/2006 (sobre o projeto do caminho dos poemas de amor)


Enquanto penso em dar-lhe
o meu magro seio
as questões rodopiam
num mundo
sem a minha coletividade
sem meu temperamento
E há a necessidade
um indivíduo que
arrote
a pequena fome
Um canto que destoe
da inadequação

Enquanto penso
insinuações sensuais
há uma corrupção no tempo
na ascensão
na queda
e eu aqui a divagar
a amar
e amar
mar
O meu orgasmo não é necessário
o meu eu eu eu
é descartável.

21/11/2005


Sol

um dedo-reto
aponta
aquilo que não tem horizonte
aquilo que nem a linha disfarça


dedo-reto
quase sem referência no espaço

o dedo,
cego.

sufocado
por um monstruoso
e delirante Sol

Entorpece a linha
o dedo
Exclui qualquer outra tentativa
de paisagem

Ele,
unívoco
um imenso umbigo.
 
1° semestre de 2008





A coma

Placas amorfas
Desgrudando-se de sua pela
Pequenina é morte
Mais forte é a sorte
De permanecer aqui


1999 (para minha avó)









sexta-feira, 6 de agosto de 2010

transitivos:
:
:
:
:
:
:
:
:
:
:

terça-feira, 20 de julho de 2010

2.

o pó é aquilo que se desprega do outro:
outro objeto
outra pessoa
o acúmulo não é só daquilo que se forma na casa
mas que vem voando de outras casas, de outras cascas

desse modo o fio de cabelo talvez não seja apenas meu.

1.

estou muito preocupada
com a água que escorre pelo chuveiro
uso-a demais
muito preocupada com um exagero meu
não sei mais qual é
quero preocupar-me
mas eu vivo num quartinho escondido do mundo
silenciada
tomo muito banho
arrumo muito a louça
sou bem domesticada
vigio o acúmulo do pó
isso é muito lindo: vigiar não o pó, mas seu acúmulo.
quando há pó suficiente varro-o para formar bolinhas
o que também é de uma beleza doméstica estoteante
estonteante é alguma moça bunduda e loira, de cabelos compridos...
mas para mim são as bolinhas de pó, amarradas pelos meus fios de cabelo
só podem ser meus
não há mais gente aqui.
daqui o mundo deveria importar-me
doer-me
mas a minha sinceridade leva-me a afirmar
que não há incômodo:
a beleza do pó, a beleza do acúmulo, a beleza do meu tempo
a beleza da minha gentileza periódica em brincar com bolinhas de sujeiras domésticas.
há beleza
e importância (servil) na minha vida honesta.

terça-feira, 13 de julho de 2010

acidentais

hoje a vassoura escapou da minha mão e bateu no meu olho esquerdo. senti uma não-dor, dor vazia, achei que meu olho havia afundado.
agora tenho um olho esquerdo mais do que nos outros dias.
fui guardar a louça, ao pegar o garfo enfiei meu dedo nele, o indicador direito. um grau reconhecível de dor, não foi estranha como a do olho.
pensei sobre isso...
os pregadores caíram dentro do tanque com água, os resgatei; impacientei-me e os joguei todos no chão.  mais tarde recolho.  
tudo acidental ou uma conspiração?   

não escrevo algum tempo
a casa me deixa assim
com uma não-dor.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

culpo o favo holandês.
perdi a lista de palavras deste domingo
quem eu culpo?

fato

fui ontem à quermesse
subi sozinha a cardeal que também estava sozinha
tomei caldo de feijão, comi cachorro-quente, bolinho de bacalhau
canjica, favo holandês (não estava bom)
minha amiga não chegava e eu comia
olhava as pessoas
as famílias
e não sofria
nem mesmo tive memórias das quermesses de caçapava
era dia de santo antônio
não fiz pedido algum para santo antônio
não tava afim...
minha amiga chegou conversamos um pouquinho...
combinamos nos ver na semana.

voltei pela cardeal
sozinha.

rascunho - algum número...

talvez o meu cheiro não esteja tão bom, talvez seja melhor lavar-me com água, sabão e pudor.
deixar-me quieta
exígua
esquecida
talvez não olhe para o teto do meu quarto
no meu olhar míope
desfocado
talvez pinte-o de outra cor
talvez não seja mais um pedaço
um avulso de mim
sou avulsa
satisfaço-me nesse silêncio
não que seja o amor
é antes a ovulação
tão somente
uma questão biológica
determinada antes que a solidão
a solidão não é
biológica
é perene
imbecil
minha pele. 

quarta-feira, 9 de junho de 2010

MANTENHA A PORTA
FECHADA E TARAMELADA

segunda-feira, 7 de junho de 2010

rascunho II: sobre o amor

eu amo pela boca
não há outra forma de amar a não ser pela boca
entro pela cavidade bucal do ser amado e instalo-me
lá convivo com as comidas, dentes, língua, saliva, restos, palavras, ar, hálitos
(é, os hálitos...)
esse é o amor real, cru, profundo, essencial.

ocorre que em outra etapa também abocanho o ser amado

deixo-o na minha boca
sou sem papo, por isso o instalo

na minha boca.

se acabar o amor
regurgito.

rascunho

vou inserir algo muito bonito no meu coração
serei leve, pluma misteriosa, afável
piscarei delicadamente, em slow motion
doce doce doce
como fui algum outro dia
doce doce doce
como a pipoca de nescau
em alguma praça no rio.

apontamentos de uma segunda-feira. o trabalho vem depois...

fiz a lista de palavras e frases...
irrevogável
dilatação
apequenam (apequenar)
infrutífero
minareti
concepção medieval do tempo: absoluto, linear
tempo serial - tempo cancelado

o que afirma a desordem?

e agora corro atrás de um encaixe das imagens, do meu sentido, deslocadas dos textos que as compilei.
tratarei de resolver algum projeto?
copiáveis?
cora coralina lia dicionários, lenda? ele falou e eu acreditei, como em quase tudo, como na monogamia.
não entendia
a monogamia, como me disse ana, era regional!
uma em são paulo e outra em brasília.

tivesse um amor agora e não retomaria essa maçada.



segunda é o eterno nó.
proibo as segundas
não trabalho às segundas
recuso-me recuso-os às segundas.
me enovelo às segundas
sou uma merda às segundas.



tirei a palavra vagina de um poema de 2000, confesso que consegui um verso melhor, após 10 anos!
exclui do blog o poema confissões de uma buceta
estou ficando moralista, estranha, professora?

(amanhã excluo esses...)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

não quero ser tão diária e nem tão explícita.
acabo não resistindo.
temo banalizar-me e àqueles a minha volta.
ficarei caladinha e voltarei ao papel, meus cadernos, somente eles?
incomodada? na minha insônia criou-se outra: filmefobia de kiko goifman.
por que a levo adiante hoje, horas depois, sonhos depois? porque ainda não fui tomar um lanchinho com a gisa e o antonio, porque ainda não fomos à livraria, porque em algum momento deixarei esse assunto para outra hora propícia.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

nostálgica (ou sem assunto)

 um


desculpe-me, senhor. lembrou-me outro. a sua gengiva... como a de m. os lábios arcados. os dentes. o senhor fuma, não é? é cinza como m. devem ter a mesma idade. não, o senhor parece-me mais velho. o senhor me desculpe. tenho idade para ser sua filha, mas estava pensando em ser sua amante. estou nostálgica. e não é necessariamente a saudade.
posso olhá-lo mais um pouco? a próxima estação é a minha.



um outro

mora num apartamento do copan
e tem gato
deve ter morado no rio
deve ter vindo do recife
uma vó morta em teresópolis
(eu não tenho certeza das cidades)
casou-se duas vezes
da última ficou sem os eletrodomésticos
um homem que mora no centro e tem gato
não quer companhia
(é) improvável.

(não sei por que lembrei-me desse homem agora)

segunda-feira, 31 de maio de 2010

muito difícil

1.
lidar todos os dias com espanto e com uma estagnação
puxar-me todo o momento do medo, da letargia
custo a entender esse terreno que agora estou
terreno sem fuga
acomodado assentamento do dia
e sei que isso ainda não é o equilíbrio
porque a inadequação existe, disfarçada
sorrateira

2.
vou afirmar que deus não existe?
quando ligo o rádio ouço:
carolina, carol, carol, carolina bela
ela mora no meu peito...

(interpretada por claudete soares)
senti-me amada por alguém
pode ser a sorte do meu nome
mas deixe-me pensando mentiras

e por hora não quero mais desfazer de mim

3.
estou com uma vontade imensa de me jogar na cama e chorar
mas me sentirei tão vagabunda
tão preguiçosa
tão fútil
tão banal
a estranheza só aumentará
deve ser a solidão
que planta essas incoerências na gente

4.
o duplo:
o outro hoje foi mais forte
acordou-me tarde, após às 9h
sentiu-me triste
o único intervalo:
selecionei os poemas para dri
fui para cama
dormi
ou acho que dormi
chorei antes
acordei e me dei capeletti
faz frio
o duplo foi embora
(acho)


agora posso trabalhar, após 9 horas...

domingo, 30 de maio de 2010

escritos 30/05/2010, na praça, no supermercado, na cozinha, no quarto...passíveis de mudanças, de censuras, exclusões

vamos costurar colchões...
ainda eu conheci
um colchão de palha
da casa de minha avó
no quarto do meio
também:

uma prateleira de livros

um baú cheio de papéis

uma máquina de crochê ou era tricô
(minha avó não a usava)
gavetas
(eram nossos escritórios, casas das susies)
sol de poeira pelas frestas da imensa janela
na casa da minha avó tinha ela
rangendo as tábuas do corredor dos quartos
tenho grudadas na pele tantas memórias delas
da casa
e da minha avó.

___



profícuo e insosso.

qual deles beber?


_______



Quero poemas curtos
nada de epopeias
(telegramas
a longas cartas virtuais)
sintético, seletivo, racional
sequinho.

_________________

A rua me dá versos
a casa os apaga

somos todos oblíquos

declinados

declinamos.

_______________________


faço as letras rodarem
aquelas sobrepostas
em
cadernos
antigos
- sobrepostos -
de
poeiras
- sobrepostas -
numa cesta
(que não está sobreposta)

quero a roda
doce brincadeira
levo-as para cirandar.
___________________________________________


titia, a mão!
titia, o braço!
tita, o cabelinho!
Nana dorme mexendo na minha mão.
Lala dorme acariciando o meu braço.
e o Pepeu até hoje, aos 10 anos, pede uma mecha de cabelo para ele segurar e enrolá-la.
assim eles dormem
assim os amo de um amor absurdo
incansável

preocupado

profundo

fundo

fundo.
_______________________________


a população de meia-idade masculina multiplicou-se?
é uma perseguição?
a minha memória não me traz felicidade
vontades
deixa-me boiando
numa água densa, parada
boio na inércia
boio num quase arrependimento
numa vergonha de mim mesma

não boio no amor
nem na sua ausência
não!

é tudo estranhamente incômodo
causa-me uma secura
e parece que só esses senhores
me veem e eu os vejo
e acabo os desejando
e fujo!

não quero! não quero!
quero não ter memórias...
_____________________

momentos depois:

tenho memórias
reminiscências açoitam-me
pela manhã
no meio do dia
no meio do sonho
(hoje sonhei que namorava o Alceu Valença e alguém, muito inconveniente, nos atrapalhou)

conservo um domingo
o gosto amargo do seu mamilo
a gota do seu suor que caiu no meu olho
feito um colírio
(pena que me deixou um tanto cega)
resquícios
não me fazem feliz
nem desejosa.

açoitam-me.

___________

estou tentando entender o grau dessa maldade
a qual grau pertence?
o gosto dessa saudade?
também não a classifico
uso essas palavras
porque sou uma pobre desprovida de vocabulário
faltam-me outras e novas palavras
não é amor
não é amor

isso está escondido
sob os tacos do quarto
sob o peso da cama
sob o meu magro corpo
sob o apartamento de cima
sob o telhado e a caixa d’água do prédio
sob a gravidade da Terra.
________

esperando Ana

como você virá já no final do próximo mês

posso ouvir cake sem chorar

____________


se não me comprometer com a casa
limpar seus vários ângulos
desaninhar aranhas
remover migalhas e fios de cabelo
se nada faço
as formigas virão
(assim lembro-me de saramandaia
só depois descobri macondo)

as formigas virão
não posso me desabitar.

________________________

(lendo alguns homens do anos 70...)


aliciei patrícia. era maior de idade, mas era santa
amaciei patrícia
lavei sua tripas e fibras
eram novas e resistentes
fornicamos
a enchia de malícia e alguns bons tapas, seguidos de lambidas
era para o seu bem e para que eu fosse um infame

(e eu era, sim, um torpe

ou um solitário)

tangi seu lombo
extorqui sua vida
amarrei-me na sua língua

eu amei patrícia.
_______________

Relendo: 26 poetas hoje (1ª ed.1975)

JURA

Vou me apegar muito a você
vou ser infeliz
vou lhe chatear

Roberto Schwarz

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Poema do nosso caderninho (meu e de Paulo Henrique)

tenho portas nos pés
e nas mãos
tenho escadas e vãos
saídas e entradas
tenho possibilidades nos dedos
arremedo nos olhos
tenho recursos da fala
balbucio
cochicho
confidencio
tenho aberturas
no peito
talvez janelas

há uma luz fraca
chamando para o quarto
bichos de lâmpada

tenho compartimentos
comportam bichos e insetos.

(enquanto escrevia entrou uma mariposa no meu quarto e
mudei o rumo do poema)

por e-mail

quando nos achamos nos outros parece que algo está perdido para sempre
aquela palavra que não foi mencionada, escrita, agora é tarde, outros a tomam, viram propriedade alheia, e a palavra era solta, a ideia era apenas a minha ideia do gesto.
não houve o gesto, afinal por herança sou vítima da preguiça...
uma eterna vítima...
hoje comecei o dia com um conto de clarice
devaneio e embriaguez de uma rapariga
embriago-me, mas diluo-me antes da hora
escolho a cama

e a caneta e o papel
inermes sobre a dura mesa.

(para adriane b. em 21/05/2010, outra sexta...)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

trem

afetada por sensibilidades, delicadezas
nomiei hoje no trem dores miúdas do dia a dia

desisti de senti-las.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Conforme Roland Barthes denominamos um “nós”,  para disfarçar a primeira pessoa do singular, mas no fundo é um artifício...

Meu grande problema é ser confessional e um problema maior ainda é tentar não ser!

daquilo que foi um ano passado

em 22.06.2009

eu perco a memória
antes da construção da memória.


em 21.06.2009

tenho-me em pequenas gavetas
em mínimos lugares
na poerinha do chão
tenho-me
olhos colados nos objetos que possuo
por direito consumido

tenho-me miúda irresponsável inotória.
os olhos das minhas coisas se abrirão
e neles estarei
porque sou minhas coisas
e elas me são.
assim um relacionamento reflexivo e fiel.

bloquinho adquirido em 08 de junho de 2009:
1ª folha: (este formato é porque o bloco é pequeno, também por isso. Há acréscimos, alterações, nem sempre...).
não vou parar
ou por fuga
ou por calma
não vou parar
municiei-me de cadernos
2 novos, este bloco
caneta nova
no final disso tudo
hei de ter conseguido
algum tipo de organização
enquanto um assunto não vem
uma imagem não se tem
relato o almoço:
(verso da 1ª página):
Agora no meu prato:
polenta com queijo branco
carne moída com azeitonas
farofa com cenoura ralada
alface americana
molho de iogurte
feijão
arroz integral
para tomar: coca em lata.


*
2ª folha
teve uma época
de mitologia
de tragédias
de perséfones e medeias
outras mais modernas
mas da mesma maneira trágicas
de yerma e a esterilidade
e assim, como também dido
torne-me um pouco yerma
e quando falo, menciono
que não tenho filho
e sempre relaciono com a idéia da ausência
então eu falo sempre do filho
que não gestei
falo na verdade daquilo que não fiz
é esta a minha esterilidade
não necessariamente um filho.






3ª folha


eu mergulho, me curvo
sobre o prato
e procuro imagens
tudo atrasado
lavaram o prato
e eu acordei.


De 08.06.2009



do caderninho C.R.I (centro de reunião de informações, alcunhado por Gisa. era para desenhos, mas escrevi muito mais que desenhei, então desenhei)

lendo Julio Cortázar

se as enguias
entrarem nessa
arquitetura de sonhos
não saberei retirá-las
se os meus passos
pisarem escadas alheias
não saberei apagá-los
se os meus olhos
se fecharem
se cegarem-me
se fundirem-me
se distrairem-me
não saberei acordá-los
se o limite é sempre esse
o buraco na barriga
não saberei transpor
essa linha
e se ela for
aquela de outras letras
é a linha das insinuações
canhestras
é a linha de perder-me
sempre sempre sempre
em mim mesma.


26.03.2009

estou em grande desacordo:
entre pensamento, os olhos e as mãos
decorrem horas de separação
condutores nervosos que me levariam
a uma única sensação
foram interrompidos
são horas de estranheza
as coisas não me reconhecem
e eu não reconheço as coisas
o corpo não funciona
ou opera sem a minha intervenção
sombreia o caderno em que me apoio
sou eu de um outro lado
em desacordo.

20.06.2009

daquilo que foi um ano passado

Noturnas:
as letras e as penas também estão geladas
o gelo aqui é físico
mesmo
o meu quarto é frio
mais que a rua

Noturnas:
o computador está com seis tipos de vírus
uns replicantes desgraçados
sabe o que farei?
vou tomar banho e
pensar em dormir.